Um grupo de ex-estudantes do curso de Agronomia da Universidade Federal de Lavras (Ufla) se prepara para comemorar os 50 anos de sua formatura de maneira bem especial.
O ano emblemático de 1968 marcou a vida dos 33 estudantes daquela turma, sendo duas delas mulheres, na então Escola Superior de Agricultura de Lavras (Esal) – hoje Ufla, instituição que contava na época com apenas 23 professores.
Para marcar a cerimônia de formatura na época, o grupo de estudantes teria como paraninfo ninguém menos do que o ex-presidente da República, Juscelino Kubitschek (1902-1976), o que seria um verdadeiro marco para a época.
Quem recorda essa história é o produtor rural e professor da Ufla, José Geraldo de Andrade, 71 anos, orador da turma do curso de Agronomia daquele emblemático ano de 1968, quando o Brasil, então governado pelo presidente Artur da Costa e Silva, estava mergulhado na Ditadura Militar.
Ele conta que o convite para que o ex-presidente fosse o paraninfo da turma aconteceu em agosto daquele ano, quando o mesmo participou das comemorações do centenário de Lavras. Na ocasião, ocorreu o “Baile do Século”, evento organizado pela lavrense Judy Maceira.
O baile realizado no dia 24 de agosto daquele ano foi um dos momentos mais inesquecíveis para muitos lavrenses. O mesmo foi organizado especialmente para receber Juscelino Kubitschek. Na época, ele ficou hospedado na casa do então deputado estadual Sylvio Menicucci, onde a turma do curso de Agronomia o encontrou.
JK aceitou o convite para surpresa dos estudantes. Ficou acertado que sua vinda se daria no dia da formatura, 22 de dezembro daquele ano, mas os planos do grupo e do ex-presidente não se concretizariam.
Na noite de 13 de dezembro de 1968, o ministro da Justiça do governo Costa e Silva, Luís Antônio da Gama e Silva, foi à televisão, em rede nacional, para anunciar a implantação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que suspendeu as garantias individuais e abriu caminho para um novo ciclo punitivo. Nessa mesma data o próprio JK seria preso no Rio de Janeiro e levado para um quartel na cidade de Niterói, sendo posteriormente obrigado a permanecer em prisão domiciliar em seu apartamento.
Na festiva noite de 22 de dezembro de 1968, a turma do curso de Agronomia da então Esal celebrava a sua formatura. No centro do palco estava uma cadeira vazia. Ela simbolizava a ausência do paraninfo do Juscelino Kubitschek, enquanto o orador da turma, José Geraldo de Andrade, discursava. O ato marcava um dos períodos mais turbulentos da história brasileira.
A história ganhará um livro organizado pela turma neste mês de setembro em Lavras para celebrar a data. O grupo pretende também se reunir durante as celebrações dos 111 anos da Universidade Federal de Lavras (Ufla).
