Lavras perde 700 postos de trabalho no setor da metalurgia por conta da crise econômica

Fachada da empresa Magneti Marelli: setor de metalurgia perdeu 700 posto de trabalho  na cidade neste semestre.
Fachada da empresa Magneti Marelli: setor de metalurgia perdeu 700 posto de trabalho na cidade neste semestre.

 

Vários setores que compõem a cadeia comercial de Lavras passaram a sentir os efeitos negativos da crise econômica que afeta o Brasil. Os sinais são evidentes no que toca os setores do comércio varejista, industrial e prestadores de serviços.
O cenário atual é resultado da subida taxa de juros (cheque especial, empréstimos pessoais do cartão de crédito), desemprego e elevação do custo de vida por conta de uma inflação que já beira os 9% ao ano. Os setores que mais foram afetados são aqueles ligados a indústria automobilística, eletrodomésticos e eletroeletrônicos.
Em Lavras, falar sobre a retomada do crescimento é quase imprevisível, isso porque o principal motor econômico da cidade, a Universidade Federal de Lavras (Ufla), tende a parar no próximo dia 10 por conta de uma greve de seus docentes e técnicos administrativos – que já se encontram de braços cruzados desde o último dia 28 de maio.
Com menos dinheiro a circular no comércio varejista e nas empresas prestadoras de serviço pelos universitários, a queda de negócios nesses setores é praticamente inevitável nas próximas semanas, o que agrava a diminuição nos lucros e aumento das perdas.
Sem falar em números que dizem respeito a desaceleração econômica, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Lavras (ACIL), o empresário José Eustáquio Cardoso, reconhece que a crise do setor é atípica, resultado de um ano eleitoral difícil, mas que é preciso enfrentá-la com criatividade.
“Nós vemos a situação com preocupação, pois os impostos que nossos associados pagam são altos. É importante que cada cidadão mantenha suas contas em dia e evite novas dividas. É importante que a inadimplência não aconteça para não agravar a situação do empresariado”, avaliou.
José Eustáquio afirmou que o setor não registrou demissões e que o mesmo tem reagido de forma a garantir o cabide de empregos para muitos cidadãos pelos próximos meses.

Cautela

 

Para o professor do Departamento de Administração e Economia da Ufla, Renato Silvério Campos, o momento exige cautela, mas ponderou que é preciso tomar cuidado com as especulações muito pessimistas a cerca do esfriamento da economia. “É um momento de ajustes, mas comparado a outros países da América Latina, o Brasil não está no fundo do poço”, avaliou.
Campos afirmou que houve erros por parte da equipe econômica do Planalto ao retardar as medidas de ajuste fiscal, o que deveria ter sido feito antes um ano atrás, de forma a impedir que o impacto no bolso do cidadão fosse maior.

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“O ano passado já dava sinais de que isso deveria ter sido feito por conta do aumento da inflação e o desemprego que começava a dar seus primeiros sinais”, disse.
Segundo o economista, a reação do governo tem impactos profundos na economia local, em razão do corte profundo com relação aos gastos públicos, que refletem diretamente na vida dos consumidores. “Como o governo representa 40% de toda economia, se há menos investimentos, também ocorre menos circulação de dinheiro”.
Campos disse que os consumidores devem ficar atentos com relação a dívidas financeiras e gastos supérfluos nesse momento. “Essa é hora de você abrir mão das coisas menos essenciais”. No caso de devidas, ele avalia que o melhor caminho é renegocia-las, pois os juros nestes casos são menores do que aqueles que são contratados.

Indústria

Um dos setores que mais sofreram com o agravamento da desaceleração da economia brasileira, agravada ainda mais pelos casos de corrupção na Petrobrás e pela instabilidade política, foi o setor industrial da cidade.
De acordo com dados divulgados pelo Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Lavras, o município perdeu mais de 700 postos de trabalho somente nos primeiros seis meses deste ano.
O presidente da entidade, Ednei Venâncio Raymundo, esclarece que a situação da categoria não é pior graças a vinda da unidade de Mauá (SP) da empresa Cofap Magnete Marelli para Lavras, o que permitiu que 500 postos de trabalho fossem mantidos pela empresa.
“Mesmo assim, tivemos em torno de 17% da redução nos postos de trabalho no setor, pois, a grosso modo, o calculo que se faz é que para cada demissão nas montadoras gera-se três no setor de autopeças”, disse.

Segundo o sindicato lavrense, a empresa que mais demitiu foi a Magnete Marelli (224), seguida da TRW (210), empresas menores, oficinas e serralherias (180), Mardel (74), Ciclope (20) e Metal Lavras (16).
Ednei Venâncio ressaltou que mesmo com essa situação foi possível manter vários direitos dos trabalhadores, como por exemplo, as negociações de PLR (Participação nos Lucros ou Resultados), o que gerou cerca de R$ 7 milhões para serem injetados na economia da cidade. “Tudo isto graças a habilidade da comissão de negociação do sindicato a participação dos trabalhadores”, completou.
O sindicalista, no entanto, alerta para o fato de que se o mercado sofrer qualquer piora não há como previr os acontecimentos futuros para a economia e a vida de muitos trabalhadores e suas famílias na cidade.

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