Crônica: Escritor Paulo Rodarte rende homenagem a Pedro Coimbra

Na bipolaridade da sua grandeza

Hoje faz sol. A amarelice colore o horizonte infinito. Algumas nuvens se deixam ver. A cidade acorda de seu sono pesado. Um frescume empapa o ar no entorno de mim.

Ao revés, contrariando o sol que do lado de fora da minha janela ameaça tomar conta do dia, dentro de mim nuvens negras se assanham todas. Nas minhas entranhas o cinza predomina. Poderia dizer que lágrimas se formam como cascatas cristalinas, como se fosse uma chuvinha mansa, deslizam dentro do meu cerne. A tristeza tomou conta de todo meu eu. Neste dia vinte e cinco de janeiro. Mês que se despede, de repente, como ele se despediu da gente, nesta data inglória.

Como ele me traz gratas lembranças.

Meu colega de jornal, amigo de longa data. Tínhamos a mesma idade. Eu ainda conto com sessenta e oito. Ele, creio, um cadinho mais.

Não fomos colegas de bancos escolares. Mas estudamos no mesmo colégio. Onde foi professor seu pai.

Jornalista, escrevedor de mancheia, um dos seus livros tive a honra de prefaciá-lo.

Conforme ele mesmo se dizia, como eu, dentro de sua bipolaridade se escondia uma alma generosa. Cineasta, fotografava o cotidiano como eu o descrevo nas minhas crônicas.

De quando em vez, tempos passados, ele aqui aparecia. No meu consultório de urologista. Ele necessitava de receitas de alguns de seus fármacos. E eu as fornecia de bom agrado.

Ele, talvez, tenha sido um dos que mais me ensejaram textos. Um deles foi publicado na mesma Tribuna de Lavras. Hoje falecida, como ele, na forma impressa.

Pioneiro nos portais noticiosos da nossa querida Lavras. O Lavras Vinte e Quatro Horas nasceu sob a batuta da sua genialidade. Sucedeu-lhe outro jornalista hábil no trato com as palavras. Um sujeito calvo, fora do peso, que hoje cedo, madrugada, fez tilintar meu celular, dando a má notícia do seu passamento.

Antes um watts up já me havia alertado dessa possibilidade, transformada em realidade, ingrata.

Quantas vezes o visitei em sua casa. Ali havia sido montado um aparato digno de uma unidade de tratamento intensivo para dar suporte a sua enfermidade cruel.

Saímos juntos pelas ruas da cidade. Não caminhando, como sempre faço. Íamos em minha caminhonetinha prateada. Uma vez ao sítio que tanto amo. Fazia-nos companhia um dos seus amigos cuidadores. Que pessoas boas ele elegeu para velar seu último sono.

A sua esposa amada sempre estava presente, no quarto ao lado.

Postei fotos nossas no face. Ele já não estava bem. Fui duramente criticado pelas imagens fortes postadas. Ignorei-as todas.

Ontem um ex-presidente foi novamente sentenciado a pena de prisão. E meu amigo, Pedro Coimbra, foi sentenciado, nesta madrugada, sem ter sido julgado, à pena máxima, a viver ao lado de Deus Pai. Ambos devem estar escrevendo a história da nossa querida Lavras num computador celestial.

Escrever sobre o Pedro é tarefa fácil. E como ele adorava responder meus watts ups com agradáveis: “Paulo, eu te amo”. “Você escreve muito bem”.

De tempos pra cá seu celular silenciou. Suas mensagens emudeceram. Sua pena se calou.

Pedro, agora acabei de verter lágrimas sobre o teclado negro do meu computador. Ele agora está molhado. Meus dedos deslizam sobre ele. Resultado da amizade imensa que sentíamos um pelo outro.

Quando recebi a notícia do seu passamento era antes das seis da manhã. Essa mesma manhã que agora se debruca em sol. Mas dentro de mim chove. Uma chuva regada à lágrimas salinas que teimam em despencar do canto dos olhos.

Duas Lavras existem a partir de agora. A de antes de Pedro Coimbra. E a de depois.

Paulo Rodate

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