Paulo Curió: Sinto Muito Se Você Gosta de Apanhar

 

Sou muito firme com minhas palavras, algumas vezes ouço meus áudios de whats e pareço grosseiro, mas, quase sempre, é apenas um jeito xucro de ser. Criei dois filhos deste mesmo jeito, com palavras duras e, muitas vezes, pesadas. Muita gente pensa que sou daqueles pais que deixam os filhos mandarem na casa, por ter uma relação muito aberta e compreensiva, tenham certeza que não é assim. Como escritor(?) acredito muito no poder da palavra e utilizo disso para lutar por meus ideais. Isso se aplica na criação dos meus filhos, moldando os valores e a educação.

Há pouco tempo, conversando com a namorada do meu filho mais velho, fiz uma retrospectiva das vezes que tive um desentendimento com ele, dá pra contar nos dedos de uma mão. Raramente brigamos e ele já tem 18 anos. Diálogo, carinho, compreensão e limites, estes foram os principais pontos trabalhados em sua criação. Nunca houve violência, não acredito que ela seja educadora, bem pelo contrário. Errei, gritei muitas vezes, fiz/faço analises profundas, a fim de melhorar meu comportamento. Todo mundo erra, é preciso aprender algo com isso.

Todos os dias leio um monte de postagens criticando a criação dos filhos nos dias de hoje, dizem que estamos gerando frouxos, fracos, mimizentos. Falhas na criação e na formação de caráter existe, existiu e sempre existirá. Culpa, na maioria das vezes, de quem cria, claro que existem outros fatores, mas não irei discuti-los aqui. O que mais me perturba é o fato das pessoas acharem ótimo terem apanhado, ou sofrido qualquer tipo de violência, quando crianças. Acham lindo dizer nas redes que tinham medo de falar com seus pais e levar uma surra. Dizem ainda que isso foi importante para que sejam honestos(?) hoje em dia. Eu nunca apanhei e não sou desonesto. O mesmo aconteceu com meus filhos e posso citar uma infinidade de exemplos. Na verdade, os criminosos mais violentos tem um histórico terrível de maus tratos e abusos físicos e psicológicos, quase sempre sofridos dentro de casa. Como isso pode ser bom de alguma maneira?

Me disseram que o problema, nos dias de hoje, é o excesso de liberdade, não somos inteligentes, nem educados, o suficiente para sermos livres. Pregam a castração. Pedem que eliminem um dos nossos direitos mais básicos, a liberdade. O discurso é sempre o mesmo – Apanhei quando criança, sou um cidadão de bem e de família cristã – indo contra tudo isso, não apanhei, nem bati nos meus filhos. Não quero ser esse tal “cidadão de bem”. Tive educação religiosa, o que me fez ser ateu, e não dou educação religiosa aos meus filhos. Não quero que meus filhos tenham medo de mim, muito menos sejam “tementes” a Deus. Com todo o duplo sentido da frase “Temer jamais”. Pessoas com esse perfil sádico pedem Intervenção Militar. Praguejam em nome de Deus. Querem armas para fazer justiça com as próprias mãos. Se acham juízes, donos da verdade absoluta, não enxergam um palmo na frente do nariz!

Se você precisa, ou precisou, apanhar pra ser o que é, sinto muito por você. Precisa acreditar numa eternidade no céu pra ser bom aqui na terra, sinto muito por você. Quer demonstrar sua força, ira e maldade sobre aqueles a quem devia proteger, sinto muito por você, e por eles. Quem sabe se você desenvolvesse mais sua empatia, sua inteligência emocional, sua sensibilidade, você poderia ser mais amável do que cruel. Quem sabe conseguiria aprender e ensinar pelo amor e não pela dor. Agora, se você é realmente incapaz, compre um chicote, ajoelhe no milho e vá se auto flagelar, só não propague essa violência em quem não merece.

Talvez numa coisa vocês tenham razão, nem todos sabem lidar com a liberdade, mas talvez.

 

Paulo Curió

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