Uma brasileira está por trás de uma das inovações médicas mais promissoras da última década. A química Lívia Schiavinato Eberlin, professora da Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, desenvolveu um dispositivo capaz de identificar se um tecido é saudável ou cancerígeno em poucos segundos, durante a própria cirurgia. A tecnologia, batizada de MasSpec Pen — e apelidada de “caneta que detecta câncer” — utiliza um sistema de espectrometria de massas para analisar as moléculas de um tecido e revelar, em tempo real, se há presença de células tumorais.
Agora, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, conduz o primeiro estudo clínico fora dos Estados Unidos com o equipamento, em parceria com a multinacional Thermo Fisher Scientific, responsável pelo espectrômetro que viabiliza a leitura molecular. O ensaio brasileiro deve envolver cerca de 60 pacientes com tumores de pulmão e tireoide, ao longo de dois anos, e busca validar a eficácia da tecnologia em ambiente cirúrgico.
Durante o procedimento, o médico encosta a ponta da caneta sobre o tecido suspeito. O dispositivo libera uma microgota de água estéril, que permanece em contato com o tecido por alguns segundos. Essa gota extrai moléculas da superfície e é aspirada para o espectrômetro, que analisa sua composição química. O sistema identifica o padrão molecular — algo como uma impressão digital biológica — e mostra na tela se o tecido é saudável ou cancerígeno, num processo que leva de 10 a 90 segundos.
Segundo Lívia Eberlin, o princípio é simples: “É como fazer um café. A água extrai as moléculas da amostra sólida, mas não remove o tecido. A análise é instantânea e não causa nenhum dano.” A pesquisadora, natural de Campinas (SP) e formada pela Unicamp, foi reconhecida pela MIT Technology Review como uma das 35 cientistas mais inovadoras do mundo com menos de 35 anos.
O desenvolvimento da MasSpec Pen representa um avanço importante rumo a cirurgias mais seguras e precisas, reduzindo o risco de deixar células cancerígenas no corpo do paciente. Embora ainda esteja em fase de testes clínicos, a tecnologia tem potencial para revolucionar a forma como o câncer é diagnosticado e tratado em tempo real dentro das salas de cirurgia.





