Primeira eleição em Minas excluía mulheres, negros e analfabetos

Marcelo Fonseca

A primeira eleição para governador em Minas contou com a participação de poucos mineiros. Em 1892, sem espaço para mulheres e analfabetos – o que excluía quase inteiramente a população negra – pouco mais de 50 mil homens foram às urnas pela primeira vez eleger quem administraria o estado. O escolhido quase de forma unânime foi Afonso Pena, que assumiria como principal desafio em sua gestão garantir a mudança da capital de Ouro Preto para um novo lugar.O cenário eleitoral de 126 anos atrás é bem diferente do atual, quando mais de 15 milhões de mineiros decidirão sobre o próximo governador. A estreia dos mineiros nas urnas é o tema do segundo episódio podcast Histórias do Poder, no qual o Estado de Minas contará até o fim das eleições casos marcantes e pouco conhecidos da política mineira.

“Nossa primeira eleição foi o que nós chamamos de eleição a bico de pena, em que havia controle absoluto dos caciques políticos sobre os eleitores. Os coronéis de diferentes regiões do estado se articulavam entre eles. Foi a constituição de um movimento oligárquico que perduraria por décadas em Minas”, conta a historiadora Maria Efigênia Lage de Resende, autora do clássico estudo “Formação da estrutura de dominação em Minas Gerais: O novo Partido Republicano Mineiro”.Segundo a historiadora, o estado repetia a característica do país nos anos seguintes à proclamação da República, em 1889: “A população permanecia excluída das escolhas. O povo estava lá, mas não participava de nada. No início da década de 1890, em todo o país a população era de cerca de 15 milhões de pessoas, mas o número de eleitores não ultrapassava 0,8% da população. Nas propriedades rurais, que eram maioria na época, as mulheres sequer podiam visitar sozinhas outras mulheres em fazendas vizinhas. Viviam praticamente isoladas. E os homens sem recursos eram completamente subjugados pelos coronéis”, explica Maria Efigênia.Influente durante o período do Império e político habilidoso, o mineiro de Santa Bárbara Afonso Pena surgiu como opção das elites mineiras para um estado que brigava por autonomia em relação ao governo federal. O mineiro já havia atuado no governo de Dom Pedro II como ministro da Guerra, da Agricultura e da Justiça. Na eleição de maio de 1892, sem praticamente nenhum adversário, Afonso Pena recebeu cerca de 48 mil votos.

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