Por Cléa Andrade: Bolinhos de Chuva – 04/2019

 

 

Tudo começou quando o bolinho de chuva, simples e delicioso, quis ser sonho. Ele era a opção dos dias de chuva prolongada, quando ninguém queria ir à padaria comprar pão. Aí, ele ganhou recheio, açúcar de confeiteiro e canela. Passou para o rol da fama, sendo servido nos mais requintados chás das cinco, tendo espaço até em festas infantis. Mas, descaracterizado que se fez, passou a ser guloseima não recomendada entre os itens da boa alimentação, a saudável. Hoje ele se traveste das mais diferentes maneiras, recheado de tudo que puder a imaginação ousar. E quanto mais ele se transforma, tanto mais pesado e contraindicado se apresenta. Comer com simplicidade, algumas vezes mantendo a originalidade da comida é exatamente o sinal de que a vida está resolvida, ao menos quanto aos aspectos essenciais do dia a dia. Bolinhos de chuva ganharam um sabor vindo junto também o excesso. Assim como na vida, tem-se atualmente na cozinha uma remodelação que nem sempre cai bem. Bolinhos de chuva já não eram a melhor alimentação para um café da manhã, o que por conseguinte, implicava seu uso em dias de chuva, apenas. Com o voar do tempo, pessoas sem paciência para pensar sobre o que comem e a moda culinária em constante transformação mais como uma mutação do que propriamente uma evolução, como seria natural, as pessoas seguiram sem pensar se ficou melhor ou pior que antes. Se até mesmo as comidas são transformadas para serem aceitas antes como alternativa, agora como novo modelo atrativo da culinária, onde o consumo haverá de impor sua volta e ressignificação, que dirá então da vida cujo tempo passou a valer ouro em pó. Daí porque bolinhos de chuva deixarem de ser leves, rendendo-se aos confeitos e efeitos, virando sonhos que não mais se encaixam na simplicidade da sua origem. Assim evoluímos…

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