Um recanto da natureza repleto de peixes, belas paisagens e que servia até mesmo para um mergulho. Quem conheceu de perto o ribeirão Dos Fonseca, na zona rural de Lavras, concorda que essa era a realidade do local no passado.
Hoje, no entanto, o córrego se vê tomado pelo descarte de resíduos químicos e o esgoto. O assunto voltou a ser denunciado novamente pelos moradores do local, que sofrem com o problema há vários anos.
Segundo um morador, que preferiu não se identificar à reportagem, a contaminação do leito começa na sua nascente e passa por dentro de uma área de preservação permanente no trevo da Comunidade de Itirapuã. Por conta disso, o mau cheiro e uma espuma leitosa são registrados no leito do córrego.
As águas do ribeirão dos Fonsecas deságuam no rio Capivari que por sua vez chegam ao Rio Grande, principal fonte de abastecimento de água dos quase 100 mil habitantes de Lavras. A água é captada e tratada pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA).
“Para os antigos moradores da região, existe uma grande diferença quanto aspecto do ribeirão, que antes era cheio de vida, com a cor barrenta e cheio de peixes. Hoje parece um esgoto, com mau cheiro, espuma e uma cor escura”, revelou o morador.
Ele informou que dois animais de agricultores da região foram acometidos por uma infecção de urina depois de consumir a água do ribeirão recentemente. Nos últimos dias, a Sexta Região da Polícia Militar e a Sexta Companhia da Polícia Independente de Meio Ambiente e Trânsito Rodoviário de Lavras (6ª Cia PM Ind MAT) também registrou a morte de peixes no local.
Investigação
A situação do ribeirão dos Fonsecas levou a Coordenadoria Regional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente da Bacia do Rio Grande (CRRG) a abrir um inquérito civil, em concordância 2ª Promotoria de Justiça de Lavras, para apurar o caso. O fato aconteceu em 2013.
Um laudo realizado pela própria CRRG, a qual o Jornal Lavras 24 Horas teve acesso, mostra que o descarte de resíduos químicos e o esgoto têm provocado “danos coletivos”, mas é como se “não fossem de responsabilidade institucional de ninguém”.
“De extrema fragilidade institucional o Estado no Brasil e em Minas Gerais padece de atuações ineficientes e ineficazes. Há uma incapacitação técnica nos órgãos públicos de fiscalização que, mesmo tendo em seus quadros servidores abnegados, dispostos a dar o melhor de si pela causa pública (nem todos), apenas conseguiu fazer o mínimo, ou abaixo disso, dentro das formalidades que a lei impõe. E, muitas vezes, pela omissão, pela preguiça ou incapacitação, a ação deletéria de “agentes públicos”, e a falta de participação, aliado ao medo, de grupos de pessoas, fazem por agravar a situação”, revelou o documento.
Segundo os moradores, a atual realidade do ribeirão dos Fonsecas já ganhou a pauta de audiências públicas e debates acalorados de vereadores em mandatos passados na cidade, mas até o momento a situação continua a mesma, sem perspectiva que mude.