Paulo Curió – Quando brigamos abraçados

Engraçado como uma frase solta, quase sem contexto, tem o poder de mudar seu dia. Conversando com uma amiga sobre relacionamentos, ouvi – Minha sogra dizia que, meu marido e eu, somos sem vergonhas, por que a gente briga abraçado – também sou assim.

Sou muito explosivo, estou a ponto de brigar o tempo todo, mas não sou rancoroso. Não consigo deixar de cumprir minhas obrigações dentro da relação, ou tomar atitudes que irão contra os acordos do casal. Com raiva ou não, estou lá com a mão estendida.

Nem toda briga é destruição e controle, algumas são gritos de alerta. Pedidos de socorro. Não, não é a melhor maneira de se resolver um problema, é apenas a mais comum. Clarice Lispector disse – Me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso.

Mais difícil ainda é continuar com a mão estendida após o fim do relacionamento. Vejo pessoas tão destrutivas que afetam os próprios filhos, privando-os de bens materiais, de afeto, até mesmo da sua presença, apenas para atingir o ex cônjuge. Deixam inocentes, totalmente desprotegidos, em meio ao fogo cruzado.

Certa vez, alguns dias após o término de um relacionamento, recebi um pedido de ajuda da ex. Estava com muita raiva. Ao chegar no local, disse – Não olha na minha cara. Vou te ajudar, mas não fala comigo – Não consegui ser indiferente.

Dalai Lama, disse – Eu sinto raiva, sinto muita raiva. Sinto raiva o tempo todo, apenas não deixo que ela saia de mim – esse exercício não é fácil. Estou longe de conseguir controlar minha raiva, perco o controle com extrema facilidade. Aprendi apenas a controlar meu rancor. Não me permito remoer as dores.

Já que as brigas são inevitáveis, já que o amor ainda é maior que tudo, vamos continuar brigando abraçados.

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