Números de casos de Covid-19 no Sul de Minas devem aumentar em janeiro

As festas de natal e ano novo fizeram com que muitas pessoas fossem para outras cidades. Mesmo entre os que não viajaram há casos de aglomerações e descumprimento das medidas que ajudam a evitar a disseminação do novo coronavírus.

Estas ações coletivas devem contribuir para o aumento dos casos de Covid-19 no Sul de Minas, conforme aponta Sinézio Inácio da Silva Júnior, professor de epidemiologia e saúde coletiva da Universidade Federal de Alfenas (Unifal).

Para ele, as atividades ligadas às festas de fim de ano como as compras de natal, comemorações e viagens seriam as causas mais prováveis.

“Houve oportunidade para aumento da exposição individual e coletiva ao vírus especialmente desde a última semana de dezembro até a primeira de janeiro”, disse.

Ele também aposta que as complicações da doença devam aparecer em meados de janeiro.

“Contando um tempo médio de aparecimento de sintomas, que é de cinco dias depois do contágio; do tempo de demanda de internação (de cinco a dez dias depois do contágio) e do tempo de permanência em UTI, 15 dias em média até o óbito, é de se esperar que até o meio de janeiro tenhamos um aumento significativo no número de casos, internações e depois óbitos”, aposta.

O professor destaca que as festas de final de ano possam ter um agravante maior do que somente as aglomerações: a exposição dos mais velhos.

“Foi um período em que os mais velhos podem ter sido mais expostos ao contágio do que antes. E é nesse segmento que estão os mais vulneráveis por idade e comorbidades. A grande escalada de novos casos que iniciamos no começo de novembro não foi inicialmente acompanhada de aumento proporcional na mortalidade. Isso pode ser devido a um grande aumento de contágio entre os mais jovens no período de fins de outubro e mês de novembro. Só que agora esse ritmo de contágio teve oportunidade de envolver também os mais velhos. A pior situação pode estar por vir”, garante.

Cansados do isolamento

O professor, a duração da pandemia provocou cansaço na população. Além disso, tem acontecido uma acomodação em relação ao risco da doença.

“As pessoas têm resistência em trocar satisfação imediata por benefício futuro. No caso da pandemia, isso se agravou porque muitos estão pressionados por atender necessidades imediatas, não só satisfação”, afirmou.

A falta de exemplo das autoridades do setor também é um fator que favorece as aglomerações.

“Também estamos vivendo uma crise de liderança. Do Governo Federal à autoridades locais, muitas vezes, tem faltado bom exemplo. O cidadão não se sente bem em ter que usar máscara quando ele vê presidente, ministros, guardas, policiais, funcionários de área azul (que trabalham para a prefeitura) e às vezes até fiscais sem usar adequadamente a máscara”, observou.

Apesar dos problemas que a aglomeração pode causar, Sinézio acredita que as reuniões de fim de ano possam ter uma consequência positiva no futuro.

“O aumento da circulação no final de ano pode ter ajudado as pessoas a compensarem um pouco o distanciamento social vivido até então. Isso pode fazer com que voltemos à disposição de fazer sacrifícios e pode ter efeito positivo no controle da pandemia”, acredita.

Ele também garante que o uso correto das máscaras e o aumento do distanciamento social são as medidas necessárias para conter a transmissão do vírus. Porém, Sinézio ressalta que é preciso usar máscaras de “material adequado”.

“O correto uso da máscara e de máscaras corretas têm que ser reforçado. Tanto em campanhas de informação e publicidade, quanto em relação à garantia de que sejam oferecidas máscaras de qualidade para as pessoas. Não é uma questão ‘fashion’, mas sim de saúde pública. Muitas pessoas não usam ou usam incorretamente a máscara porque as que elas têm são pequenas, desajeitadas, desconfortáveis… Nem roupa de baixo se usa nessas condições”, alertou.

O professor também aposta na testagem em larga escala e na adoção de uma estratégia para identificar, testar e isolar os casos suspeitos da doença, assim como ocorreu na Coreia do Sul.

Aglomerações

 

Durante o período de festas, foi comum acompanhar exemplos de aglomeração em várias cidades do Sul de Minas. Foram realizadas festas, reuniões de família e aglomeração em bares, restaurantes e praças.

Em Carmo do Rio Claro (MG), por exemplo, nas proximidades da igreja matriz central um grande número de pessoas estiveram reunidas no final de semana. O ato foi fotografado e denunciado nas redes sociais. Na cidade, um bar também chegou a ser interditado pelas autoridades municipais.

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