Museu Bi Moreira oferecerá mostra dedicada ao escritor mineiro João Guimarães Rosa

 

“Viver é muito perigoso, porque ainda não se sabe. Porque aprende a viver é que é o viver mesmo”, escreveu certa vez Rosa.

 

 

Travessia. A palavra que encerra o livro mais famoso do mineiro João Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, parece não se encerrar em si mesma, mas se expande como um universo capaz de abarcar multifacetadas formas de viver e sentir a Arte.

Os lavrense têm agora a oportunidade de poder mergulhar em parte dessa aventura literária através de uma mostra dedicada ao bom e velho autor mineiro. A exposição Um Olhar para o Sertão – Homenagem a Guimarães Rosa será inaugurada no próximo dia 31 deste mês, no Museu Bi Moreira, no campus antigo da Universidade Federal de Lavras.

A mostra reúne 14 telas que buscam apresentar um olhar particular sobre o universo do sertão e seus moradores, espaço físico e metafísico, onde o escritor projetou suas vivências que se tornariam histórias célebres para a Literatura Brasileira. Os trabalhos são do artista plástico paulistano Adriano Alves, que reside há 30 anos em Belo Horizonte. Os trabalhos rementem a uma forte influência do pintor italiano Amedeo Modigliani (1884-1920), que não pintava os olhos de sua “amada”.

“Quando leio os textos de Guimarães, só consigo imaginar cada cena, cada passagem com cor e o próprio autor descreve as cores. A menina de lá tem vestido amarelo quando está apontando as estrelas e o caixão que ela pede para seu enterro é rosa com brilhantes verdes; Nhorinhá está vestida de vermelho, quando Riobaldo a conhece… são citações como essas que me fizeram pintar tudo em cores”, explicou o pintor autodidata.

Nos últimos anos, Adriano Alves ilustrou para capas e livros infantis e trabalhou com criação de projetos gráficos para vários artistas. Entre eles alguns nomes se destacam: Marcus Viana, Helena Jobim, Thiago de Mello, Chico Lobo, Paula Fernandes, Fernando Sodré, Geraldo Vianna, João Araújo e muitos outros.

Ave, Palavra!

Outro destaque da mostra será a apresentação de um espetáculo de narração protagonizado pelos atores Tiago Goulart e Maria Auxiliadora Guimarães Franco – “A hora e Vez de Augusto Matraga”, do livro “Sagarana”. O evento acontecerá no Teatro de Convenções da Ufla, a partir das 20h.

Tiago Goulart participou do Grupo Miguilim por dez anos, onde aprendeu e desenvolveu a arte de narrar estórias. Atuou como guia e contador de estórias no Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo, terra natal do escritor. Como contador de estórias, continua sendo convidado para se apresentar em vários locais e para públicos variados.

Narradora desde 1990, Maria Auxiliadora optou pelo conto literário e tem narrado, em diferentes espaços, textos de vários autores. Mas, foi na obra de Guimarães Rosa que encontrou seu grande seleiro de histórias, muitas já preparadas e apresentadas em espetáculos de narração. Narrando seus textos, participou dos espetáculos: “Riobaldiadorim , encontros no sertão”, “Mula Marmela : histórias de mulheres “, “ Diadorim , no sirgo fio dessas recordações”, “ Deus ou o Diabo para o jagunço Riobaldo” , “ Dão- lalalão , os sinos do amor”, “ A hora e vez de Augusto Matraga” e “ A Estória de Lelio e Lina”.

EXPOSIÇÃO ROSA - Cópia
Tela que integra exposição “Um Olhar para o Sertão – Homenagem a Guimarães Rosa”, assinada pelo pintor Adriano Alves, que será inaugura no próximo dia 31.

Juntamente com Elisa Almeida, ela é responsável pela formação e direção do Grupo Miguilim de Contadores de Estórias, adolescentes especializados na narração da obra de Guimarães Rosa no Museu do escritor. A série de eventos faz parte das comemorações dos 107 anos de fundação da Ufla.

A mostra e o espetáculo são uma promoção do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) Cultural, Associação de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Lavras (ASSEAL), e Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Ufla.

Visões

Para o coordenador de Cultura da Ufla, professor Silvério Coelho, os eventos reafirmam o compromisso da Ufla em promover ações culturais para a comunidade universitária e local.

Já a historiadora Lícia Maria Salgado, da Prefeitura Municipal de Lavras e do museu Bi Moreira, afirmou que a obra de Guimaraes Rosa lança questionamentos importantes numa sociedade cada vez mais volátil. “Trazer o Rosa é trazer um pouco de Minas Gerais para Lavras”. Ela afirmou que a proposta é um convite para que alunos de escolas e a própria comunidade acadêmica passem a conhecer o autor.

A inspetora chefe do CREA Lavras e docente da Ufla, Andréa Corrêa, por sua vez falou da importância do projeto, que visa democratizar a cultura entre os profissionais da engenharia e a comunidade. Ela afirmou que a ideia é ampliar a ações entre o CREA e Ufla, em vista dos ótimos frutos colhidos com eventos recentes. “É fundamental desmitificar essa visão de que os profissionais da engenharia são todos cartesianos. Eles possuem outras habilidades que precisam ser mostradas”.

“Essas exposições itinerantes reforçam a ideia de que o museu é um espaço cultural que pode oferecer produtos diversificados, o que mostra a sua potencialidade. Essa é a oportunidade de incentivar todos a visitar o museu e o campus histórico da universidade”, encerrou a coordenadora de Museus e Patrimônio Histórico da Ufla, Angêla Maria Soares.

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