Marcha com discurso violento em colégio militar gera repercussão e afastamento de policiais no Tocantins
Um vídeo divulgado nas redes sociais, nesta semana, mostrou estudantes do Colégio Militar Euclides Bezerra Gerais, em Paranã (TO), participando de uma atividade extracurricular que gerou indignação entre pais, servidores e especialistas. Guiados por um policial militar, os alunos, com idades entre 11 e 15 anos, cantavam versos com conteúdo violento, como:
“Tu vai lembrar de mim
Sou taticano maldito
E vou pegar você
E se eu não te matar
Eu vou te prender.”
A atividade fazia parte da Operação Hagnos, que tem como objetivo o combate à violência contra crianças e adolescentes. No entanto, a ação foi duramente criticada por especialistas e a comunidade escolar, levando ao afastamento do diretor da escola e dos policiais envolvidos, por determinação do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos).
Especialistas e pais condenam abordagem
O professor José Lauro Martins, doutor em educação, classificou a atividade como inadequada para o ambiente escolar e para a faixa etária dos estudantes. Ele destacou que a proposta não promove educação, mas um “processo de adestramento”. “Essas crianças estão sendo vitimadas por pessoas despreparadas para o processo educativo. Não é apropriado para a escola, muito menos para a idade delas”, afirmou.
Pais também se manifestaram contra o ocorrido. Uma mãe, que preferiu não se identificar, declarou: “No mundo de hoje, já temos muita violência. Quando levamos nossos filhos para a escola, esperamos educação e disciplina, não atos como esse”.
Uma servidora do colégio militar descreveu a situação como alarmante: “Essas não são músicas ou canções, são frases de ordem violentas que falam sobre matar. Isso não é educação.”
Medidas do governo e apuração
Em nota, o Governo do Tocantins repudiou o ocorrido e afirmou que a ação está “em total desacordo com os valores de respeito e cidadania que devem ser cultivados no ambiente escolar”. Além do afastamento imediato do diretor e dos policiais, o governo determinou à Secretaria de Educação (Seduc) a instauração de uma comissão para investigar o caso e garantir que situações semelhantes não voltem a acontecer.
A Polícia Militar do Tocantins também iniciou um procedimento investigativo e reafirmou o compromisso com princípios éticos e legais. “Condutas que não estejam alinhadas aos valores institucionais serão tratadas com a seriedade que a situação requer”, declarou a corporação.
Repercussão e defesa das escolas cívico-militares
O caso acendeu um debate sobre a atuação de forças de segurança dentro de escolas cívico-militares. Enquanto a Seduc e a Polícia Militar defenderam o modelo de ensino, reforçando que o episódio foi um caso isolado, críticos questionaram a abordagem militarizada em instituições de ensino.
“O ambiente escolar deve ser um espaço de aprendizado, respeito e convivência, e não de propagação de discursos de ódio”, enfatizou o professor José Lauro. O episódio também levantou discussões sobre a necessidade de capacitação dos envolvidos em atividades educativas.
Próximos passos
A investigação segue em curso, e medidas disciplinares serão aplicadas aos responsáveis. Enquanto isso, a Seduc afirmou que reforçará a supervisão nas escolas cívico-militares para evitar novas ocorrências. Para a comunidade escolar, o episódio deixa uma reflexão sobre os limites entre disciplina e educação e o papel das instituições na formação dos cidadãos.
O Colégio Militar Euclides Bezerra Gerais, que atende 400 alunos, agora enfrenta o desafio de reconstruir a confiança de pais e estudantes em seu modelo de ensino e práticas pedagógicas.