Entenda como o contato excessivo com tecnologia e o acesso a conteúdos adultos podem afetar a relação dos jovens com o sexo
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A geração Z é composta por jovens nascidos entre 1995 e 2010, conhecidos por serem nativos digitais, valorizarem a sustentabilidade, apoiarem causas sociais e buscarem equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. No campo afetivo, os zoomers têm demonstrado uma tendência de menor atividade sexual em comparação com as gerações anteriores.
Segundo um levantamento da psicóloga Jean W. Twenge, enquanto os membros da geração X tiveram uma média de dez parceiros sexuais ao longo da vida, os da geração Z tiveram cinco. Outros estudos também apontam a tendência de abstinência sexual entre os mais jovens.
As pesquisas podem causar um certo espanto, afinal, os mais jovens têm a possibilidade de falar mais abertamente sobre sexo do que as gerações anteriores. Eles têm acesso a conteúdos educativos que desmitificam tabus, o que permite não só a compreensão sobre a própria sexualidade, mas também a oportunidade de experimentar: um jovem que tem a curiosidade sobre como escolher plug anal ou outros sextoys encontra muito mais facilidade para tirar suas dúvidas hoje do que há algumas décadas, por exemplo.
No entanto, especialistas afirmam que a tendência de menor atividade sexual acompanha a geração Z. O contato excessivo com as tecnologias e o livre acesso a conteúdos pornográficos são apontados como fatores que influenciam o comportamento
Jovens vivem ‘apagão sexual’
Além da pesquisa realizada pela psicóloga Jean W. Twenge, outros estudos reforçam a abstinência sexual dos jovens da geração Z.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Karolinska com a Universidade de Washington classifica o fenômeno como “apagão sexual”.No Brasil, a pesquisa “Mosaico 2.0” destaca que jovens entre 18 e 25 anos são os que mais consideram que o sexo tem pouca ou nenhuma importância em suas vidas.
Pesquisadores têm se dedicado a entender o comportamento que afeta a juventude em todo o mundo. Em entrevista à imprensa, a psicóloga especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH), Carolina Freitas, afirma que a tecnologia pode ter influenciado essa geração a criar conexões virtuais, diminuindo o apreço pelo contato físico na vida real.
Por nascerem em uma era digital, esses jovens aprenderam a criar conexões virtualmente, lidando com uma quantidade expressiva de informações. A psicóloga diz que, para a maioria deles, as relações em carne e osso dão muito trabalho, enquanto as virtuais são mais fáceis de serem criadas e alimentadas.
Também é na internet que esses jovens consomem conteúdos adultos, buscam lojas para comprar pênis de silicone ideal e vibradores, aprendem sobre sexualidade e debatem sobre tabus que circundam a temática.
Na avaliação de Carolina, apesar de ser um espaço que aproxima os jovens de assuntos relacionados ao sexo, a internet também os afast. A profissional relata que, nas redes sociais, a pornografia é oferecida sem filtros e por meio do chamado soft porn — termo usado para um tipo de produção criado para excitar o espectador, mas que não é tão explicita quanto as produções tradicionais.
O contato excessivo com a pornografia, de acordo com a psicóloga, além de reduzir a vontade de relações sexuais na vida real, deturpa a imagem dos jovens sobre o sexo.
Em entrevista à imprensa, o sexólogo Renan de Paula defende a mesma opinião. Entretanto, ele acredita que não há razões para o pessimismo, pois com o amadurecimento das tecnologias e da própria geração, novas formas de relacionamento e intimidade continuarão a surgir e, embora sejam diferentes do habitual, não são necessariamente erradas.
Mais jovens preferem a monogamia
Uma pesquisa de 2024, realizada pelo aplicativo de relacionamentos Feeld junto com o Instituto Kinsey, mostra que a geração Z já tem seus próprios interesses e desejos sexuais.
Do total de entrevistados, 23% afirmaram que preferem um relacionamento monogâmico, enquanto 15%, a não-monogamia. Em comparação com outras gerações, a Z é a menos adepta à não-monogamia, apontada como preferência de 24% dos Millenials e 27% da geração X.
Eles também se mostram mais abertos a explorarem a sexualidade com fetiches: 55% descobriram um novo fetiche desde que passaram a usar aplicativos de relacionamento na internet. O mesmo aconteceu com 49% dos Millenials e 39% da Geração X.