Festas de fim de ano são eventos ‘super espalhadores’ de Covid

Um simples encontro entre amigos ou familiares numa reunião comemorativa permeada de beijos, abraços e aquela boa prosa pode ser o rastilho que vai culminar em uma pequena explosão de contaminações por Covid-19. Caso a descrição tenha te remetido a festas de virada de ano, acertou. É importante reafirmar que inúmeros especialistas recomendam evitar as aglomerações comuns durante o Réveillon, pois esses eventos são considerados super espalhadores do coronavírus.

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão em fase inicial de um estudo que pretende detectar no Brasil o que outras pesquisas internacionais já mapearam: eventos ou situações que acabam concentrando a maior parte das infecções em determinadas comunidades. Em resumo, são estabelecimentos ou lugares que reúnem gente acumulada em espaços exíguos e com desatenção às regras de distanciamento e uso de máscara.

A mistura funciona como um barril de pólvora. Além do contato social que o brasileiro tanto gosta, a ingestão de álcool acaba fazendo com que as pessoas relaxem no cumprimento das regras de distanciamento social. A conversa fica mais fluida, o que aumenta a emissão de partículas pela saliva. Não raro, as festividades incentivam os frequentadores a emendar uma cantoria, o que eleva consideravelmente as chances de disseminação do vírus.

O que os especialistas defendem é que a transmissão não é linear, ou seja, não afeta a rede de estabelecimentos de uma mesma forma e intensidade. “A literatura indica que a transmissão é bastante concentrada em alguns poucos eventos”, explica Marden Barbosa,  coordenador do Observatório Social da Covid-19 da UFMG.

Mapeamentos feitos em Hong Kong e também nos Estados Unidos ajudam a compreender essas particularidades. Reuniões de celebração, como festas de casamento e bares com música ao vivo, apareceram mais comumente nestes estudos como pontos de maior transmissão da Covid-19. Ciente dessa incidência maior do vírus em momentos de celebração coletiva, a família da jornalista Carolina Presotti Almeida preferiu cancelar o tradicional encontro natalino de todos os anos, que reuniria oito pessoas, inclusive a avó de 89 anos, além dos pais, que tiveram Covid. “Como os casos estão aumentando muito e o cenário está cada vez mais crítico, meus tios e minha avó decidiram realmente não fazer nada”, informa a jovem.

Um artigo divulgado na revista ‘Nature’ no mês passado detectou que uma minoria dos chamados pontos de interesse, ou seja, os estabelecimentos não-residenciais que promovem pequenas aglomerações, como restaurantes, bares, mercearias e templos religiosos, concentram a maioria das infecções. Na região metropolitana de Chicago, por exemplo, somente 10% dos estabelecimentos foram responsáveis por 85% das infecções, segundo o estudo, que tentou mapear o trajeto da disseminação do vírus em dez regiões metropolitanas dos Estados Unidos.

“O imaginário popular sugere que o contágio acontece de forma homogênea, mas há eventos que são super disseminadores”, explica Marden. Em comum, esses lugares atraem pessoas com o mesmo tipo de comportamento. “São lugares onde há muito fluxo de partículas e saliva”, diz o professor.

Em outro artigo também publicado na ‘Nature’ em setembro, estudiosos acompanharam 1.038 casos de infecção registrados até abril deste ano em Hong Kong. Os pesquisadores identificaram que 10,2% das contaminações aconteceram em quatro bares da cidade – 106 pessoas foram infectadas. Os mesmos músicos se apresentavam nos quatro estabelecimentos, e provavelmente somente um desses artistas foi responsável pela infecção de 67 pessoas – não somente quem esteve no bar, mas também quem teve contato com esses clientes.

Um casamento e um templo religioso foram os outros dois locais identificados pelo estudo como maiores disseminadores do vírus naquela localidade.

Estabelecimentos de baixa renda são pontos de maior transmissão

É sabido que os jovens progridem para casos mais graves com menos frequência, mas está igualmente comprovado que são esses mesmos jovens que acabam se infectando e levando o vírus para dentro de seus lares, o que acaba contaminando pessoas mais idosas que moram no mesmo imóvel. “Não necessariamente quem estava nesses eventos vai ficar doente, mas esse indivíduo leva (o vírus) para casa e acaba infectando uma pessoa mais velha e com comorbidade. O movimento de clientes em um bar pode aumentar as mortes, porque as famílias de quem foi ao bar podem ser infectadas”, continua o professor.

Outra conclusão interessante do estudo feito nos Estados Unidos é que as taxas de infecção são maiores em estabelecimentos de clientela com melhores condições financeiras. Isso acontece porque, geralmente, lojas e restaurantes de classes mais altas apresentam espaços físicos maiores e mais bem ventilados. No levantamento norte-americano, em 8 das 10 áreas metropolitanas analisadas registraram maiores taxas de infecção em pessoas que frequentam supermercados de baixa renda, o que configura as disparidades nas infecções, segundo o estudo. “Esses levantamentos demonstram que esses locais super-disseminadores afetam mais os pobres. O espaço nesses lugares é menor e as pessoas ficam mais próximas”, completa o pesquisador da UFMG.

Fonte: O Tempo

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