A Polícia Federal concluiu uma investigação que expôs uma trama golpista articulada por militares de alta patente, envolvendo o general da reserva Mário Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência da República, segundo áudios obtidos com exclusividade pelo Fantástico. Os áudios revelam discussões sobre um plano que incluía a eliminação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Em um dos 55 áudios obtidos, Fernandes, de maneira exaltada, afirma:
“Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais.”
Em outro, gravado em 4 de novembro de 2022, o general alega, sem apresentar provas, que houve fraude eleitoral:
“Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p…,” declarou.
Outros integrantes do grupo apoiavam as declarações de Fernandes. Um dos participantes, ainda não identificado, afirmou:
“Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso.”
As gravações também indicam que os acampamentos em frente a quartéis em 2022 faziam parte de um movimento orquestrado. Em um dos áudios, Fernandes cita o clamor popular como estratégia:
“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa.”
Ligação com Bolsonaro e tentativa de golpe
Segundo a investigação, Fernandes manteve contato frequente com o então presidente Jair Bolsonaro. Em um áudio, Fernandes revela uma conversa com Bolsonaro sobre a diplomação de Lula:
“O presidente citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição. Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro. Tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades.”
No dia 12 de dezembro de 2022, data da diplomação de Lula e Alckmin, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF em Brasília e incendiaram veículos, em um episódio que, segundo a investigação, foi influenciado por essas articulações.
A PF também identificou que o agente da Polícia Federal Wladimir Matos fornecia informações confidenciais sobre a localização e a equipe de segurança de Lula ao grupo golpista.
A investigação resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro; o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro; Augusto Heleno, ex-ministro do GSI; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; e Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
Os envolvidos enfrentam acusações que incluem conspiração contra o Estado democrático de direito e tentativa de homicídio qualificado. Fernandes, Matos e o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira já foram presos.
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) defendeu a Constituição e repudiou atos de violência política:
“Lideranças políticas devem incentivar seus partidários a se afastarem de atos de terrorismo político.”
A Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE) declarou que atos contra a segurança de agentes públicos representam grave ameaça ao Estado democrático de direito e devem ser punidos com rigor.
Já a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) destacou a importância de um Poder Judiciário independente:
“O funcionamento regular das instituições é uma garantia para os direitos fundamentais da população.”
Com a conclusão das investigações pela PF, o processo segue para a Procuradoria-Geral da República (PGR), que analisará as provas e decidirá sobre denúncias formais contra os envolvidos. Enquanto isso, o caso segue como mais um capítulo das investigações sobre ameaças à democracia brasileira.
Fonte: G1 – Fantástico