Enfermeira dá dicas para enfrentar os efeitos negativos da pandemia em Lavras

 

A pandemia do Covid-19 mudou literalmente o modo comos as pessoas passaram a  conviver no  mundo todo.

Severas medidas de higiene, a necessidade de distanciamento social e quarentena são fatores que deixaram muitas pessoas confinadas em suas casas.

Tal fenômeno criou vários efeitos negativos que passaram a afetar a saúde mental das pessoas.

Para falar sobre o assunto e o seu enfrentamento, a reportagem do Lavras 24 Horas conversou com a enfermeira Kátia Pole (foto).

Professora Doutora do Departamento de Ciências da Saúde da UFLA e coordenadora do Núcleo de Saúde Mental da UFLA, ela também é especialista em Psicologia Positiva.

Confira a entrevista:

Que impacto a pandemia tem na vida psíquica e emocional das pessoas?

Estamos vivendo um momento de grande incerteza, que nos faz sentir extremamente vulneráveis, pois não sabemos ao certo o que acontecerá em curto e médio prazo. Essa situação nos evidencia o quanto não temos o controle de muitas coisas na vida e isso gera medo e ansiedade que, em excesso, pode comprometer tanto a nossa saúde mental quanto a nossa saúde física, pois elas estão intimamente relacionadas. Também temos que entender que aquela vida que conhecíamos antes da pandemia não existe mais, fomos obrigados a nos reinventar e aprender novas formas de ser e agir no mundo. Quando tudo isso passar, provavelmente teremos que nos readaptar a uma nova realidade e teremos, mais uma vez, que nos adaptarmos a um novo estilo de vida.

O Brasil é um dos países que mais consomem antidepressivos no mundo. Para você, a tendência é que este fenômeno tenda a aumentar agora e no período pós-pandemia?

Na verdade, nós brasileiros, temos uma tendência a “medicalizar” muitas coisas, inclusive a tristeza e o sofrimento. Se você perdeu alguém que ama, é natural que se sinta triste, ou seja, não devemos tratar a tristeza inerente à experiência humana com antidepressivos, ou então teríamos que colocar essas drogas na água que consumimos diariamente. A tristeza, assim como a alegria, são emoções que fazem parte da nossa vida. Além disso, acredito que não estamos tão bem colocados no ranking de consumo de antidepressivos porque temos maior incidência de depressão, que atualmente é considerada uma das doenças mais incapacitantes em todo mundo; consumimos antidepressivos em excesso porque essa é a via mais rápida para o alívio dos sintomas depressivos. Mas é importante entender que, na maioria dos casos, a medicação não vai resolver todo o problema, pois é necessário que a pessoa esteja engajada em mudanças de pensamento e comportamento, que são fundamentais quando pensamos em um tratamento mais efetivo. Vamos pensar num exemplo concreto: se você tem uma dor de cabeça recorrente, você pode tomar um analgésico e ter o alívio da dor, mas se ela aparece de novo e de novo, você precisa procurar um serviço de saúde para investigar e intervir na causa. O mesmo ocorre com a depressão, as medicações atuam na melhora dos sintomas, mas não agem na causa; por isso, o sucesso terapêutico depende também de acompanhamento psicológico.

Negligenciar a saúde mental dos indivíduos numa situação como a que enfrentamos neste momento pode gerar consequências graves para o país no plano social e econômico, bem como nos serviços de saúde?

Entendo que devemos encarar a saúde mental muito mais na lógica da prevenção do que do tratamento, assim como deveríamos fazer em todos os casos de doença. Vivemos numa cultura extremamente curativista, ou seja, geralmente a pessoa procura um serviço de saúde quando algo não está bem e isso não é o ideal. Se você tem um carro, o adequado seria que você fizesse uma revisão semestral ou anual para prevenir possíveis defeitos e corrigi-los antes que se tronem um problema maior. O mesmo deveria ser pensado com relação à nossa saúde, inclusive com a nossa saúde mental. É muito mais efetivo pensarmos em estratégias de prevenção de adoecimento do que tratar a pessoa quando o quadro já está instalado. Saúde – e saúde mental – é algo construído em nosso dia a dia e não algo que recebemos pronto.

As pessoas com maior vulnerabilidade social serão as principais vítimas dos efeitos negativos provocados pela pandemia com relação à saúde mental?

Não necessariamente! Todos nós estamos vulneráveis ao adoecimento mental, então, é tarefa de todos construir a nossa saúde mental a cada dia que levantamos pela manhã.

Como profissional da área da saúde, você acredita que o poder público e a população adotarão uma nova postura para com a categoria no país após a pandemia? 

Acredito que há uma tendência de sermos mais valorizados diante do cenário que estamos vivendo, é inegável a importância da atuação dos profissionais de saúde no combate às doenças, em especial, uma doença como essa, com altas taxas de mortalidade. Talvez agora, mais do que nunca, fique claro o quanto a saúde é um bem valioso em nossas vidas. Infelizmente temos a tendência de valorizar algo quando deixamos de ter, então, que essa experiência possa nos permitir tanto valorizar mais os profissionais de saúde quanto nos engajarmos nos cuidados com a nossa própria saúde.

Que caminhos as pessoas podem adotar ao perceber qualquer problema relacionado à saúde mental neste momento?

É importante que a pessoa, que deve ser especialista nela mesma, saiba se reconhecer e perceber os sintomas de adoecimento. Alguns deles são: isolamento social, sensação de falta de sentido na vida, desânimo e desesperança persistentes, perda de interesse em atividades que antes apreciava, diminuição da autoestima, alterações de sono e apetite, que pode ser pra mais ou pra menos, entre outros. Caso haja persistência desses sintomas, a pessoa deve procurar um serviço de saúde para uma avaliação criteriosa.

E quais são as dicas para manter a saúde mental nesse período de pandemia?

Lembre-se que o momento é transitório

Crie uma rotina

Cuide de você, respeitando suas necessidades fisiológicas, tais como alimentação, hidratação e sono

Evite o excesso de informações

Mantenha contato com as pessoas importantes

Coloque sua vida em ordem

Interrompa pensamentos repetitivos e catastróficos

Faça planos a cada semana

Aprenda a reconhecer e respeitar suas emoções e sentimentos

Aprenda técnicas de relaxamento/meditação

Não deixe de lado seu tratamento

Peça ajuda se necessário

E lembre-se sempre que tudo passa, tanto os bons quanto os maus momentos, então, quando você estiver vivendo um momento especial, viva-o com intensidade; e quando a situação for ruim, tenha em mente que depois da tempestade o sol voltará a brilhar!

Muita luz e paz pra você!

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