O déficit habitacional em Minas Gerais cresceu 30% entre 2016 e 2022, três vezes mais que a média nacional de 9,86%, conforme dados divulgados pela Fundação João Pinheiro (FJP). O Estado passou da terceira para a segunda posição no ranking nacional de maior déficit habitacional, com 556,68 mil unidades necessárias para atender a demanda. Apenas São Paulo apresenta números superiores.
O aumento no número de famílias sem moradia adequada reflete uma realidade complexa, que inclui desde moradores de rua até pessoas que dividem residências ou comprometem uma parte significativa de sua renda com o aluguel.
Nas ruas de Belo Horizonte, cenas como barracas de plástico e papelões transformados em abrigos são cada vez mais frequentes. Gislésio Silva, 45, que vive em um amontoado de tapumes no bairro Califórnia, ilustra a situação: “Entre ter casa e comprar remédio, eu prefiro isso aqui”, conta ele, que precisou abandonar a casa alugada devido à incompatibilidade entre o custo de vida e seu salário mínimo.
Já na região Centro-Sul da capital, a assistente administrativa Andrea Moreira, 37, encontrou no compartilhamento de apartamento uma solução para morar em um bairro estruturado. Ela divide o imóvel com outra família, refletindo um fenômeno crescente no Estado: mais de 78,59 mil pessoas vivem em residências compartilhadas, enquanto outras 310 mil gastam pelo menos 30% de sua renda com aluguel.
Segundo Marcus Vinícius, diretor-geral da Agência Metropolitana, cerca de 50% do déficit habitacional de Minas Gerais está concentrado na região metropolitana de Belo Horizonte. O crescimento desordenado dessas áreas e a falta de estrutura em bairros afastados são apontados como causas principais. Para muitos, como Andrea, a proximidade com comércio, saúde e transporte é essencial, o que torna a vida na capital uma necessidade, apesar dos altos custos.
“Habitar vai além de ter uma casa. É sobre ter acesso a emprego, saúde, educação e transporte. Sem isso, a habitação se torna insustentável, mesmo que haja uma residência”, ressalta Vinícius.
Outro dado alarmante é o aumento no número de pessoas em situação de rua no Estado. De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos, esse número quase triplicou entre 2016 e 2022, saltando de 8.718 para 25.927 pessoas, sendo 11.826 apenas em Belo Horizonte. Quase 25% delas perderam suas casas e foram forçadas às ruas devido à crise habitacional.
Raquel Ludermir, gerente de políticas públicas da Habitat Brasil, aponta a pandemia como um fator agravante. “A crise econômica intensificada pela pandemia aumentou a vulnerabilidade, levando mais pessoas às ruas ou a condições habitacionais precárias.”
Especialistas defendem políticas públicas voltadas à redução do déficit habitacional, como a ampliação de programas de habitação popular, regulação do mercado imobiliário e incentivo à criação de infraestrutura em regiões periféricas. Além disso, é necessário oferecer suporte para pessoas em situação de rua, incluindo abrigo e acesso a serviços básicos.
“É um problema complexo, mas não impossível de ser solucionado. A integração entre governo e sociedade é essencial para garantir moradias dignas e combater as desigualdades”, conclui Frederico Poley, pesquisador da Fundação João Pinheiro.
Dados do Déficit Habitacional em Minas Gerais (2016-2022):
Déficit Habitacional: 556,68 mil unidades (+30%)
Crescimento Nacional: 9,86%
Pessoas em Situação de Rua: 25.927 (+197%)
A crise habitacional em Minas Gerais é um alerta sobre a necessidade de políticas públicas eficazes e investimentos em infraestrutura, com o objetivo de garantir o direito à moradia digna para todos.
Foto: Flávio Tavares/O TEMPO