Confira a crônica de Paulo Curió desta sexta (11/01)

HUA MULAN 

A paixão, às vezes, surge cedo demais, e antes mesmo de terminar o terceiro ano, casou. Por escolha, trocou as baladas, as aventuras, pelo desafio da vida a dois. Só quem já passou por isso conhece as dificuldades. É como andar na contramão, todos a sua volta parecem julgar, afinal, jovens, que nada sabem da vida ou do mundo, deveriam explorar as possibilidades antes de uma decisão tão importante. No fundo não há o que lamentar. Quando a felicidade aponta no horizonte, apenas seguimos em sua direção.

Após quinze anos de casamento, a separação, e com ela um turbilhão de incertezas. Sua independência, apesar de muito precoce, era compartilhada, mas a partir de agora seria responsável por si, e ninguém mais. É natural, dentro de um casamento, que cada um tenha seus afazeres para melhor funcionamento da relação e da casa, absorver tudo não é fácil. Tudo era novo e desafiador. Ela conseguiu! Apaixonada pelo que faz, dedicou-se ainda mais a sua carreira. Juntou dinheiro, adquiriu sua casa, viajou sozinha pela Europa, descobriu-se. Nem todas as experiências foram boas, é claro, mesmo assim, a cada batalha, uma vitória. Do seu jeito, no seu tempo, amadureceu.

Workaholic que só, pouco visitava sua família. Naquele mês, já com metas batidas antecipadamente, decidiu visitar sua mãe. Era a primeira vez que voltava, após a separação, a cidade onde passou parte de sua adolescência. Visitou lugares. Reencontrou amigos. Reviveu o passado. As festividade de fim de ano, naturalmente, nos deixam saudosistas. Mas havia algo a mais. Imaginou como seria sua vida se tivesse desfrutado sua adolescência de outra maneira. Não era arrependimento, afinal seu casamento deu certo por quinze anos, só exercitou a imaginação. Seus pensamentos vagaram distantes. Percebera que pouco sabia sobre a vida e seus prazeres. De como as escolhas podem ser leves. Da importância de agir duas vezes antes de pensar.

Quando voltou pra casa estava diferente, já questionava a existência da “ordem natural da vida”, afinal, aos trinta, sentia uma necessidade de se aventurar. No peito apenas uma certeza, sua adolescência ainda estava por vir.

Paulo Curió

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