Companhia de Teatro CausArte movimenta cena cultural lavrense com série de atividades

Os atores Karen Nunes, Lorrayne Gabrielle e Jean Gabriel  no centro de Lavras
Os atores Karen Nunes, Lorrayne Gabrielle e Jean Gabriel no centro de Lavras

A cena teatral lavrense ganhou recentemente uma turma de peso e talento. Falo da Companhia de Teatro CausArte, grupo fundado há um ano por alunos da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e moradores da cidade.

De uma participação descompromissada em um cursinho promovido pelo movimento Levante Popular da Juventude no campus da instituição, o grupo passou a promover oficinas teatrais gratuitamente, o que forjou o interesse para que companhia fosse montada. Hoje a trupe que tem na arte popular a sua base conta com 28 integrantes. O trabalho reúne poesia, música e dança.

A Cia CausArte já tem uma longa lista de serviços prestados ao teatro na cidade. No currículo constam peças como: Blues Emmett Louis (baseado no poema de Vinícius de Moraes); A Maça (inspirada numa canção de Raul Seixas); Os Três Maus Amados (baseado num poema de João Cabral de Melo Neto); e Você Já Foi a um Cabaré, texto escrito pela por uma das integrantes, a atriz Lorrayne Gabrielle, 20 anos.

A última apresentação do grupo aconteceu na I Virada Cultural de Lavras ocorrida no mês passado, quando parte da grupo subiu ao palco do evento para interpretar a montagem Cordel Estradeiro, peça baseada numa colagem de textos do próprio grupo inspiradas em obras de Ariano Suassuna, poemas do poeta paraibano Manoel Xudu Sobrinho (1932 – 1985) e Literatura de Cordel.

“Nós traçamos uma meta para trabalharmos com linhas artísticas, sociais e politicas de forma independente na cidade”, conta Lorrayne, ex-aluna da dramaturga e diretora de teatro lavrense Alcione Lopes.

É nesse clima de cooperativa afetiva e artística, que a companhia se define como uma grande família onde as afinidades e diferenças (cor, raça e religião) de cada membro se misturam no caldeirão cultural criado pelo grupo.

Para outra membra da companhia, a atriz Karen Nunes, 23 anos, o fato da maior parte dos atores serem amadores, intensifica o caráter e a formação da companhia. “Para nós, o teatro é algo que vem da alma. Claro que ele exige técnica, postura e responsabilidade, mas é preciso amor para que ele aconteça”. Ela afirma que há uma troca de experiências e talentos entre os membros, o que soma no final do trabalho.

Membros da Companhia de Teatro CausArte: reflexão sobre a realidade e interação com o público através da arte de representar  histórias.
Membros da Companhia de Teatro CausArte: reflexão sobre a realidade e interação com o público através da arte de representar histórias.

O ator Jean Gabriel, 19 anos, cita, por exemplo, o carioca Augusto Boal (1931-2009), fundador do Teatro do Oprimido, e o alemão Berthold Brecht (1898-1956), criador do Teatro Épico, como inspiração e influencia na trajetória do grupo. O foco na problematização das questões políticas e a preocupação com relação a formação de um público frequentador do teatro na cidade também estão na pauta do grupo.

“Gosto dele [Boal] por conta desse valor que ele dá aos oprimidos. Há uma questão de olhar e ver um valor no outro. Nossa sociedade tem uma divisão de classes, por isso a gente não quer falar para o público, mas com o público”, analisa o ator.

A falta de apoio financeiro e de espaço para os ensaios são algumas das queixas da companhia, que luta para se manter na ativa com o apoio de professores e dos próprios atores. “Por isso muitos grupos teatrais acabam, pois falta de apoio e logística”, descreve Lorrayne.

Outro problema é um espaço destinado profissional destinado às apresentações do grupo na cidade, em suma, um teatro de verdade. A fim de driblar esse contratempo, os atores costumam fazer intervenções artísticas em praças e ruas para chamar a atenção e interagir com a população do munícipio.

Lorrayne e Jean também fazem um trabalho social por meio do teatro na Escola Municipal Cinira de Carvalho, na zona sul da cidade. A dupla pretende levar o projeto a outras escolas. Os membros admitem que dentro da própria Ufla há uma certa resistência contra o movimento teatral, mas que a tendência é que isso diminua com o tempo.

“O teatro permite que eu possa sentir a dor de um personagem. Somos mais humanos quando passamos a sentir a dor do outro. Nesse sentido, o teatro permite mostrar várias perspectivas sobre um único tema”, finaliza Lorrayne.

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