Cresce interesse de cafeicultor por seguro

 

 

As intempéries que têm afetado os cafezais desde meados de 2020 ampliaram o interesse de produtores de café por seguro rural, ferramenta historicamente pouco utilizada no segmento. Quem recorre ao seguro faz a contratação como um adicional de operação de financiamento, uma forma de mitigar os riscos das operações de empréstimo.

“O instrumento não é ofertado ao cafeicultor como um serviço, como uma possibilidade interessante para o negócio dele”, diz Saulo Faleiros, diretor comercial da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec), com sede em Franca (SP).
Os cafeicultores da Mogiana Paulista e do sudoeste de Minas Gerais, onde há cooperados da Cocapec, assim como os que cultivam o grão em outras regiões de Minas, a exemplo do sul do Estado, estão despertando para o necessidade de proteger as lavouras. Desde o ano passado, os produtores enfrentaram seguidas estiagens, uma das razões da atual crise hídrica, e o quadro se agravou com as geadas do último mês de julho. A seca de 2020 foi responsável pela quebra de cerca de 30% da atual safra, enquanto os efeitos do clima seco e do frio recente devem prejudicar também a próxima temporada.

Novos formatos

O cenário tem levado lideranças de cooperativas a distribuir informações sobre seguro e também a contribuir com a revisão de “moldes” de apólices, dialogando com instituições financeiras. É que, segundo produtores, existe uma espécie de nó quando o assunto é seguro em café, com ou sem subvenção do governo: a cobertura mais comum (e acessível) tem cmo foco a proteção das árvores, e não da produção. Isso desestimula o contratante em caso de perdas. “Estamos renegociando formatos e notamos que há seguradoras mais dispostas a ouvir ideias, para criar novos produtos, do que no passado”, diz Faleiros.

Uma das sugestões da Cocapec é que se estabeleça um limite de cobertura para o preço do café, de modo que a apólice englobe parte da produção. “As cotações do grão são inconstantes, o que deixa a apólice ‘salgada’. O objetivo é encontrar equilíbrio para produtor e seguradora. Se por um lado há um risco grande relacionado à instabilidade do clima e dos preços, por outro, há 2 milhões de cafeicultores interessados no produto”, afirma.

Vale lembrar que a cultura ocupa o quarto lugar na lista de valor bruto da produção agrícola no país – a estimativa para este ano é de quase R$ 36 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura.

Outras cooperativas também estão se movimentando em busca de soluções nesse campo, como as mineiras Cocatrel e Minasul. Marco Brito, presidente da Cocatrel, reforça que o seguro é uma opção ainda recente no setor. Com isso, diz, a atuação das cooperativas é fundamental para fomentar a cultura entre os cafeicultores e encontrar soluções para o produto.

O presidente da Minasul, José Marcos Magalhães, por exemplo, admite que não tinha seguro para seus cafezais. “Vou negociar um para o próximo ano”, diz. “A ideia é buscar equilíbrio, encontrar garantia que seja no mínimo razoável. Não vou buscar garantia de prêmio total, se não o prêmio sobe muito”.
Ana Carolina Gomes, analista de agronegócios da gerência técnica do Sistema Faemg, de Minas Gerais, lembra que há ainda muita desinformação, inclusive sobre a subvenção ao prêmio das apólices fornecida pelo governo federal. “É apoio que se pode pleitear para diminuir o custo do produto financeiro”, lembra. Em Minas e São Paulo, importantes produtores de café arábica, e Espírito Santo, onde o carro-chefe é o conilon, as áreas seguradas somaram 7,9%, 8% e 8,3% do total cultivado na safra atual, respectivamente.

O dado, do governo, é calculado com base no dinheiro liberado por meio do Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural (PSR) e do Proagro, ligado ao Pronaf (agricultores familiares). No âmbito do PSR, pode haver desconto de até 40% na contratação de apólice. Neste ano, estão reservados R$ 46,2 milhões para subvenção na categoria “outros”, que inclui café, cana e olerícolas.

“Ser caro ou não é questão de interpretação. É como fazer um seguro de vida: os benefícios são maiores”, avalia Gomes. Ela reforça que há distintos produtos no mercado, já que as apólices variam conforme a seguradora, mas admite que adaptações são necessárias. “É preciso reajuste. Algumas não cobrem geadas, por exemplo”.

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