“Thanos e os Genocidas Brasileiros” é a crônica de Paulo Curió para esta semana

Desde que assisti “Vingadores: Guerra Infinita”, não paro de pensar na loucura de Thanos, por incrível que pareça, aos olhos de alguns, ela teria lógica e até poderia ser aplicada no Brasil. Não só aqui, mas em muitos países pobres do terceiro mundo. Alegando viver em um universo finito, de recursos escassos, Thanos torna-se um genocida. Acredita que eliminando seres de forma aleatória evitará a extinção em massa e o sofrimento, afinal todos os seres pagariam o preço da hiper população, morrendo, assim, por fome, sede e doenças atreladas a esse cenário apocalíptico. Exterminar vidas é a melhor maneira de garantir a sobrevivência.

Em meio a uma semana conturbada, o caos sendo instaurado no país devido a forte crise econômica em que vivemos, ocorreram muitas discussões no facebook. Minha timeline está recheada de embates acalorados, todos defendendo suas “convicções”, não importa se possuem, ou não, conhecimento prévio do assunto, importam-se apenas em defender o que acreditam a todo custo. Entre as maiores barbáries que li, inclusive de amigos meus, foram, “Esqueçam os livros”, “Você acredita que uma ditadura militar nos dias de hoje seria igual a de 64?”, “Nunca houve ditadura no Brasil”, “O Brasil era desenvolvido na época de Dom Pedro II”, mas, a pior e a mais séria de todas, foi, “O brasileiro é bicho sem raça. Xucro. Só vai na pressão. Povo, em sua maioria, sem índole. Educação é um comportamento, aprendido, índole é genético. Controle de natalidade, já”. Ainda há quem acredite que não tenho motivos pra me preocupar, que preciso ignorar as opiniões alheias e excluir apenas excluir essas pessoas do meu convívio, mesmo que virtual.

Temos um presidenciável que homenageou um torturador em uma sessão da câmara de deputados, algo que seria passível de prisão na maioria dos países, no Brasil foi aplaudido por uma parcela da população. Os apoiadores, a massa, faz as seguintes alegações, “Eles iriam nos transformar em Cuba”, “Nos salvaram do comunismo”, “Bem feito, eles não seguiam as regras, e convenhamos, regras são regras”, não basta prender os opositores, existe um prazer sádico em torturar.

Todas às vezes em que vejo um vídeo de violência, logo abaixo são apresentados os seguintes comentários, “Pena de mote, já!”,”Ah, se fosse comigo, eu tinha matado esse filho da puta”, longe de mim defender bandido. Acredito que penas severas devem ser instauradas, que os presos devem trabalhar e pagar suas dívidas, morais e financeiras, com a sociedade. Mas não é isso que estão defendendo, é a morte, a tortura, isso é tão prazeroso na cabeça de alguns, que acredito que sintam orgasmos mentais.

Depois de 9 dias sem combustível, podemos assistir a selvageria começando a tomar conta da população, desconheço, isso não quer dizer que não exista, meios de se controlar a histeria coletiva. Comentei com algumas pessoas – É apenas uma greve, sabemos que ao seu fim os alimentos chegarão a nossa mesa, mas e se fosse realmente o fim de algum recurso natural? Se as reservas de combustível fóssil, ou a água potável, chegasse ao fim? – viveríamos nós o cenário apocalíptico temido pelo Thanos.

Hitler não cometeu suas atrocidades por acaso, era visto como um “messias” pelo povo alemão. Recebendo o apoio popular para exterminar a vida de milhares de judeus. O que me faz acreditar, num cenário hipotético, se algum candidato propor o extermínio de vidas, garantindo que este é o caminho da salvação, receberia não só apoio nas urnas, mas na prática do extermínio também.

Thanos ainda apresenta mais lucidez, pra ele as vidas seriam eliminadas sem privilegiar ninguém. No Brasil preferem exterminar os presidiários, os pobres, as mulheres, os pretos, gays e os que acreditam em religiões de origem africana. Ah, e os maconheiros, já que a maconha leva ao crime. Nenhum bandido toma cerveja, né?!

Exagero? Acho que não! Qualquer um que deseja a morte de um ser humano, que se diz capaz de executá-la, já que muitos proferem para que todos leiam, sua vontade de “matar esses filhos da puta”, é um genocida potencial.

*Paulo Curió 

Sobre o Autor

Nascido em Porto Alegre, Paulo Curió, mudou-se para Lavras no início de sua adolescência, em 96. Amante da cultura popular, capoeirista desde os 5 anos de idade, desenvolveu projetos de capoeira por mais de uma década. Foi em Lavras, ainda nos anos 90, que seu trabalho como professor de dança ganhou notoriedade, sendo convidado a ministrar aulas em diversos locais. No início dos anos 2000, resolveu estudar as artes cênicas, indo para as cidades do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Desenvolveu projetos de destaque no âmbito cultural na cidade como Coordenador do Núcleo Cultural Unilavras. Metalúrgico desde 2005, graduou-se como engenheiro mecânico, tornando-se professor dos cursos de engenharia civil e produção. Atualmente, leciona em cursos de pós-graduação pelo Grupo UNIS, sendo engenheiro e responsável técnico da Mercomolas Indùstria de Molas,  consultor na Onixx Consultoria Organizacional. Curió, também, é músico na banda Circo da Lua e professor de forró. Como escritor, lançou em 2017 sua primeira obra, intitulada “Hemisférios – dos amores racionais às razões do amor”, um livro de contos, crônicas e poesias.

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