Uma parte da história de Lavras voltará a Minas Gerais em breve. Trata-se do quadro Verônica, do século 18, que pertenceu ao acervo da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, de Lavras, e havia sido levado há 50 anos por jovem estudante do Instituto Presbiteriano Gammon, e doado ao Museu de Arte de São Paulo (Masp).
O quadro será devolvido pelo MASP ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). De autoria desconhecida, a peça com 1,20m de altura por 60cm de largura será restaurada. Ela estava no MASP há 12 anos. Ela será transferida para o Museu de Arte Sacra de São João del-Rei, já que a Igreja do Rosário, tombada pelo Iphan em 1948, não oferece condições técnicas e de segurança para mantê-la.
O quadro Veronica foi descoberto pelo jornalista e escritor lavrense Pedro Coimbra, em novembro de 2009, após entrevistar William Daghlian no Instituto Gammon em 58 e 59, sendo na atualidade produtor musical e morando fora do Brasil desde 1968. Na reportagem ele narrava o que tinha ocorrido quando levou a peça da Igreja do Rosário. O repórter da Tribuna de Lavras, Marco Aurélio Bissoli, foi quem procurou o MASP, que confirmou a existência da peça.
“Quando estudei em Lavras, a Igreja Matriz estava em reforma. Um dia, pedi permissão ao guarda para entrar e ver como iam as obras. Na sacristia, encontrei a ponta de um tecido sob uma pilha de tijolos. Removendo-os, vi uma tela jogada, sem chassis, imunda, descascando, com uma pintura de um anjo segurando o manto da Verônica. A pintura estava em péssima condição. Perguntei se eu poderia comprar o quadro, ao que o guarda me informou que o mesmo pertencia ao Patrimônio Histórico e não poderia ser vendido. Disse-lhe então que no estado que estava, o quadro desapareceria em pouco tempo. O guarda me disse: Então pode levar. Perguntei quanto era, e ele disse: Nada! Levei o quadro para São Paulo, o consegui salvar e mais tarde o doei ao Museu de Arte de São Paulo. Hoje é a mais antiga pintura brasileira do acervo do MASP. É do sec. XVlll, provavelmente de 1756″, narrou na ocasião.
Na época da descoberta o caso ganhou repercussão na cidade. Órgãos como do Conselho do patrimônio Histórico e o Ministério Público da cidade, através do promotor Carlos Alberto Ribeiro Moreira, tomaram providencias para investigar o caso e pedir a devolução da peça, que agora, ao menos, volta ao seu Estado de origem.
Opinião
O presidente Conselho do patrimônio Histórico, Wagner Raimundo Gonçalves, disse que a decisão de manter a peça no museu de São João del-Rei foi tomada pelos Ministérios Públicos Estadual e de Lavras em parceria com o Iphan.
Ele informou que o restauro da peça será feito pelo Iphan, que abrirá uma licitação de uma empresa que fará o serviço na cidade de Ouro Preto, para que futuramente ela seja entregue Museu de Arte Sacra de São João del-Rei.
“É uma alegria muito grande saber que parte da história de nossa cidade foi preservada. Queremos que futuramente ela venha para Lavras, quando pudermos acomodá-la de forma adequada”, disse Wagner Gonçalves.
O jornalista Pedro Coimbra disse que o desfecho do caso o deixou emocionado. “Conseguimos mostrar a veracidade do fato e trazer de volta uma parte do patrimônio histórico e artístico de Lavras a fim de que novas gerações a conheçam”. O repórter Marco Aurélio Bissoli, por sua vez, alertou para o fato do caso servir de lição para a manutenção e conservação adequada dos bens artísticos do município.
“Esse é um exemplo claro de que precisamos de políticas públicas voltadas para a manutenção e conservação do nosso passado. Sem passado, não existe presente, sem presente, não existe futuro. Preservar e cultivar o que é belo é um dever de todo ser humano”, avaliou.
