Paulo Curió traz essa semana a “Eternidade do Se”

 

Costumamos maldizer o amor platônico. Difamado. Praguejado. Amaldiçoado. Não existe amor mais desgraçado do que o não correspondido. Não pra mim! O platonismo sempre foi segurança. Sem as responsabilidades de uma relação, o amor idealizado protege-se em sua perfeição. O “se” não se concretiza, é imaterial, e se não pode ser tocado, não pode ser destruído.

Sofro de platonismo crônico. É a melhor maneira de encontrar inspiração para escrever estórias fugindo da experimentação, é um exercício de mergulho na fantasia. Pra isso existem algumas regras, nunca tocar no objeto de amor é uma delas. O toque o tornaria humano e amores platônicos são divindades. Não caminham, flutuam. Não sorriem, emanam luz. Não olham, contemplam. Não falam, criam melodias. Não gesticulam, dançam.

Existe toda uma poética envolvida no “se”. “Se” é literário, mutável. O “se” permite a criação de diversos universos coexistentes. Podemos viver infinitas possibilidades de amor, com o mesmo amor. O “se” nasce imortal. Deve existir um berçário de amores platônicos no cinturão de Orion.

Sei que não sou o único, muitos amigos utilizam do platonismo como mecanismo de sobrevivência. Ouviram tanto sobre a perfeição do amor, esta foi a única maneira encontrada livre da decepção.

Certa vez um amigo me disse – Acabo de ver meu amor platônico dos tempos da faculdade. Meu Deus, isso já faz quase 10 anos. Ela está mais linda do que nunca – suspirou. Estava em êxtase. Por alguns instantes não percebera o mundo a sua volta. Ficou irreconhecível. Tomado de súbita felicidade, se teletransportou. Era novamente o stalker da faculdade.O mesmo brilho nos olhos. O mesmo sentimento de paz interior. Seu amor jamais morrera, estava adormecido. Senti uma inveja tão grande dele, disse em voz alta – Puxa, você tem muita sorte! – gargalhamos. Ele tinha razão, ela estava linda. Maravilhosa pra ser sincero. Tão bela quanto o amor puro e desinteressado que ele guardara em seu peito por todos aqueles anos.

 

* Paulo Curió

* Sobre o Autor

Nascido em Porto Alegre, Paulo Curió, mudou-se para Lavras no início de sua adolescência, em 96. Amante da cultura popular, capoeirista desde os 5 anos de idade, desenvolveu projetos de capoeira por mais de uma década. Foi em Lavras, ainda nos anos 90, que seu trabalho como professor de dança ganhou notoriedade, sendo convidado a ministrar aulas em diversos locais. No início dos anos 2000, resolveu estudar as artes cênicas, indo para as cidades do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Desenvolveu projetos de destaque no âmbito cultural na cidade como Coordenador do Núcleo Cultural Unilavras. Metalúrgico desde 2005, graduou-se como engenheiro mecânico, tornando-se professor dos cursos de engenharia civil e produção. Atualmente, leciona em cursos de pós-graduação pelo Grupo UNIS, sendo engenheiro e responsável técnico da Mercomolas Indùstria de Molas,  consultor na Onixx Consultoria Organizacional. Curió, também, é músico na banda Circo da Lua e professor de forró. Como escritor, lançou em 2017 sua primeira obra, intitulada “Hemisférios – dos amores racionais às razões do amor”, um livro de contos, crônicas e poesias.

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