Umas das peças sacras mais antigas da Igreja Matriz de Sant’ana ganhou vida nova após passar por uma obra de restauro nos últimos meses.
Trata-se do oratório dedicado a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que permanece do lado direito do templo, bem ao lado do batistério da paróquia. Feito todo em madeira, a peça traz o ícone de Maria Santíssima.
A recuperação da peça ficou a cargo do escultor e restaurador lavrense Alexandre Reis de Souza, que já havia restaurado o altar e a porta central da igreja, dentre outros trabalhos realizados em Lavras e na região.Ele contou que a peça precisou ser imunizada contra cupins e sua base teve de ser reconstituída porque podre.”Foi removido todo o verniz antigo e usadas folhas de ouro nas partes douradas. A parte de traz também foi fechada”. O trabalho demorou seis meses para ficar pronto.
“Eu gostei muito do resultado final do trabalho. É um bonito altar a Nossa Senhora e tem um valor devocional sobre os fiéis. Ele é muito antigo, pois meu pai se recorda dele quando criança. Minha mãe afirma que a gravura foi doada por padres da Missão Redentoristas”, disse Alexandre.
História
Muito venerado no oriente desde tempos imemoriais, o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está entre as mais expressivas invocações a Maria, Mãe de Deus. O quadro original é uma pintura em estilo bizantino, sobre madeira, de 54 x 41,5cm, onde se entrelaçam a arte e a piedade, a elegância e a simplicidade.
A tradição popular narra que um comerciante teria roubado o quadro na ilha de Creta, no século XV, e o levado para Roma, de navio. Conta-se que, durante a viagem, uma forte tempestade colocou em perigo a vida dos passageiros e somente com a intervenção de Nossa Senhora eles conseguiram se salvar. Mais tarde, antes de morrer, o comerciante decidiu confiar o ícone a um amigo para que o levasse a uma igreja da cidade, a fim de devolvê-lo à veneração pública.
Então, o quadro foi entregue à igreja de São Mateus, onde permaneceu durante 300 anos. Com a invasão de Roma pelos franceses, em fins do século XVIII, a igreja foi destruída e os religiosos agostinianos que ali trabalhavam levaram o ícone para outro lugar, onde ficou guardado e esquecido.
Em 19 de janeiro de 1866, o Papa Pio IX confiou o quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro aos missionários redentoristas, com a incumbência de torná-lo conhecido e amado em todo o mundo e de divulgar a devoção ao Perpétuo Socorro de Maria, cuja festa é celebrada no dia 27 de junho.
Depois de restaurado, o ícone foi devolvido à veneração pública e entronizado solenemente na igreja de Santo Afonso, construída sobre as ruínas da antiga igreja de São Mateus e de São João de Latrão.
O quadro é o ícone da tradição bizantina mais venerado no mundo, graças ao trabalho dos redentoristas.
A devoção ao ícone de Nossa Senhora
O quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro constitui um admirável ícone oriental. Com termos de origem grega (“eikón”), que significa imagem, pintura ou quadro. Trata-se de uma pintura sagrada, feita em madeira, segundo técnicas e tradições seculares. Os ícones podem representar Jesus Cristo, a Virgem Maria, os Anjos ou os Santos. Obedecem a normas bem precisas sob o ponto de vista artístico e teológico.
Possuem como fundamento a encarnação do Verbo de Deus. A encarnação é o mistério cristão básico no qual a Igreja reconhece que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fez homem no seio da Virgem Santíssima por obra do Espírito Santo (Mt 1, 18-25;Lc 1, 26-38). Encarnando-se, o Filho de Deus tornou-se visível (Jô 1, 1-17; 6, 1-6). O ícone procura representar esse Deus divino e humano.
O ícone é uma espécie de sacramental, um sinal da graça, um auxílio para a vida espiritual dos cristãos. Assim como Jesus Cristo, Aquele que assume a história humana e torna-se a revelação concreta da Palavra de Deus, é a imagem de Deus invisível (Cl 1, 15; Heb 1,3), o ícone é a imagem artística e religiosa do Transcendente e Invisível, levando à oração e à meditação aqueles que o contemplam.
O significado do quadro
No quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, tudo tem seu significado: as cores, as legendas, as atitudes e até os detalhes.
- Abreviação grega de “Mãe de Deus.”
- Coroa de ouro: o Quadro original foi coroado em 1867 em agradecimento dos muitos milagres feitos por Nossa Senhora em seu título preferido “Perpétuo Socorro”.
- Estrela no véu de Maria, a Estrela que nos guia no mar da vida até o pôrto da.salvação.
- Abreviatura de “Arcanjo S. Miguel”.
- Abreviatura de “Arcanjo S. Gabriel”.
*6. São Miguel apresenta a lança, a vara com a esponja, e o cálice da amargura.
- A boca de Maria é pequenina, para guardar silêncio, e evitar as palavras inúteis.
*7. São Gabriel com a cruz e os cravos, instrumentos da morte de Jesus.
- Os olhos de Maria, grandes voltados sempre para nós, afim de ver todas as nossas necessidades.
- Túnica vermelha, distintivo das virgens no tempo de N.Sra.
- Abrev. de “Jesus Cristo”.
- As mãos de Jesus apoiadas na mão de Maria, significando que por ela nos vêm todas as graças.
- O fundo todo do Quadro é de ouro, e dele esplendem reflexos cambiantes, matizando as roupas e simbolizando a glória do paraíso para onde iremos, levados pelo perpétuo socorro de Maria. ‘O quadro de N. Sra. do Perpétuo Socorro é a síntese da Mariologia”.
- Manto azul, emblema das mães daquela época. Maria é a Virgem-Mãe de Deus.
- A mão esquerda de Maria sustendo Jesus: a mão do consolo que Maria estende a todos que a ela recorrem nas lutas da vida.
- A sandália desatada – símbolo talvez de um pecador preso ainda a Jesus por um fio – o último – a Devoção a N. Senhora!
* Os números 6 e 7 apontam primeiro os anjos e, logo após, a boca e os olhos de Maria.