As Folias de Momo

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Terça-feira Gorda de Carnaval e Lucas, Luciano Pica-pau, Adamastor e Lazinho, fantasiados de piratas, estavam de fogo de tanto beber Rum Montilla com Coca-Cola, comprado no armazém do Batalhão da Polícia Militar.

– Agora é a vez de vermos o desfile das boazonas – disse Adamastor.

– Você é um exagerado! –disse Luciano Pica-pau – São apenas moiçolas de família – completou.

Lucas, com a vista já embaralhada viu no final da Praça Principal, descendo a avenida, numa cena com uma luz digna de cinema, emoldurada pela Igreja Matriz de Santa Barbara, a primeira Grande Sociedade.

– Lá vem O Caldeirão do Diabo- disse com voz pastosa para os amigos.

Havia muito tumulto na multidão colocada nas calçadas.

O Carnaval de Santa Bárbara era cheio de ciclos que intercalavam anos bons e anos ruins.

– Ainda bem que este ano desapareceram os gatinhos – falou Luciano Pica-pau.

Ele se referia aos mascarados com máscaras de gatos que invadiam a cidade quando não havia algo melhor para fazer e promoviam grande confusão.

Lucas se lembrava de um Carnaval muito divertido que passara ao lado de uma gatinha que nunca mais reconheceu.

Ele e sua turma não desfilariam numa das três Grandes Sociedades: O Caldeirão do Diabo, Os Afilhados de Momo e Os Filhos da Folia.

– Somos profissionais da alegria e desfilar no Carnaval é para amadores – dizia Luciano Pica-pau.

-Você tem razão! – aplaudiam Adamastor e Lazinho.

E se preparavam para ficar assentados numa mesa no Bar do Clube, com tubos de lança-perfume escondidos debaixo das mesas, longe dos olhos dos policiais que faziam a ronda.

Todos os anos a organização do Carnaval causava uma grande confusão, envolvendo a Prefeitura, a Igreja Católica e toda a comunidade, desde que surgiram os grandes blocos na década de 30.

Neste ano o problema surgira com esta terceira Grande Sociedade que se chamava Os Filhos da Mãe, o que o Vigário da Igreja Matriz Nossa Senhora do Desterro considerara um insulto a beatificação da Mãe Santa.

– Nunca pensamos nisso – tentou se explicar o Corimba, um sapateiro negro que resolvera organizar a Entidade Carnavalesca e que, para não ver aumentados seus problemas, que já não eram poucos, mudou o nome para Os Filhos da Folia.

– Só acontecem essas coisas em Santa Barbara – disse Luciano Pica-pau.

As Grandes Sociedades eram uma estranha mistura de elementos da festa que se originou na Grécia em honra aos deuses, depois foi esquentada por bebidas e práticas sexuais e pecaminosas, o que desagradou profundamente a Igreja Católica. Foi então que os padres não conseguindo proibi-la, como sempre fazem os religiosos, a adotaram. O povo que não é bobo chiou, pois a festa era só sua e pura alegria!

Em Santa Bárbara surgiram primeiro os mascarados, depois os grandes blocos, os desfiles de carros alegóricos e os bailes de Gala, no Clube da Cidade.

Finalmente o desfile acabou tornando-se o corso de automóveis, de antigamente, com muitas fantasias e bandas que tocavam marcinhas, o que atraiu as famílias.             Muitos foliões de cara limpa, mas a grande maioria movida pelo lança-perfume Rodoro e pelo álcool em excesso.

Adamastor deu uma volta pela praça e voltou com boas notícias:

– O que tem de certinhas desfilando não está no gibi – ele disse.

E que as gostosonas estavam concentradas em O Caldeirão do Diabo.

– Tem um grupo de mascaradas, com fantasia de árabes, umas odaliscas, que tenho certeza que não são daqui – ele afirmou.

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